Apologia da Ignorância Bíblica: Por que os evangélicos estão cada vez mais distantes do Evangelho
- Thullyo Alves
- 10 de mar.
- 3 min de leitura
Introdução
A falta de conhecimento bíblico entre os evangélicos tem se tornado uma realidade alarmante. Muitos que se identificam como cristãos desconhecem as doutrinas fundamentais da fé e interpretam as Escrituras de maneira rasa ou equivocada. Esse distanciamento do Evangelho não é apenas um problema de leitura, mas uma consequência de uma espiritualidade superficial, onde a emoção e a experiência pessoal substituem a verdade revelada na Palavra de Deus. Neste artigo, exploraremos como a ignorância bíblica tem gerado embaraços teológicos, desmistificaremos a ideia errônea de que "a letra mata" e reforçaremos a necessidade urgente de um retorno ao estudo fiel das Escrituras.
A Relação Entre a Pouca Leitura e os Embaraços Teológicos
A falta de conhecimento bíblico tem levado muitos cristãos a aceitar doutrinas antibíblicas e práticas distantes do verdadeiro Evangelho. O profeta Oseias já alertava: "O meu povo foi destruído, porque lhe faltou o conhecimento" (Os 4:6). A ausência de estudo sistemático das Escrituras abre espaço para heresias, manipulações e um cristianismo superficial, que não resiste às provações da vida.
João Calvino, teólogo reformado, enfatizou a centralidade das Escrituras ao afirmar: "Onde quer que vejamos a Palavra de Deus puramente pregada e ouvida, ali existe uma igreja de Deus, ainda que esteja repleta de falhas". No entanto, sem a correta compreensão das Escrituras, a igreja se torna vulnerável ao erro.
Paulo exorta Timóteo a "manejar bem a palavra da verdade" (2Tm 2:15), demonstrando que o estudo diligente é uma obrigação do cristão. Infelizmente, muitos hoje priorizam experiências subjetivas e revelações extra-bíblicas, enfraquecendo sua fé e tornando-se presas fáceis para ensinos distorcidos.
"A Letra Mata" – O Verdadeiro Sentido de 2 Coríntios 3:6
Muitos utilizam a passagem "a letra mata, mas o espírito vivifica" (2Co 3:6) como argumento para rejeitar o estudo profundo da Bíblia. No entanto, essa interpretação é equivocada. O contexto do texto mostra que Paulo está contrastando a Antiga Aliança da Lei com a Nova Aliança da Graça. A "letra" se refere à Lei Mosaica, que expõe o pecado, mas não tem poder para conceder vida. O Espírito, por outro lado, opera a regeneração e traz a verdadeira transformação.
John Stott, renomado teólogo reformado, afirmou: "A Palavra de Deus é como uma espada afiada: ela fere para curar, mata para dar vida". O estudo das Escrituras não nos mata espiritualmente; pelo contrário, é por meio dela que conhecemos a Deus e crescemos na fé.
A palavra grega "γράμμα" (gramma), usada no texto, significa "escrita" ou "documento" e, no contexto paulino, refere-se ao ministério da Lei gravado em tábuas de pedra. O problema não é a Escritura em si, mas a tentativa de buscar justificação por meio da Lei sem a obra vivificadora do Espírito.
A Urgência do Retorno às Escrituras
Vivemos tempos em que o relativismo e o emocionalismo têm ganhado espaço dentro das igrejas, afastando os cristãos da verdade bíblica. Precisamos recuperar a cultura do estudo diligente da Palavra, seguindo o exemplo dos bereanos, que "examinavam diariamente as Escrituras para ver se as coisas eram assim" (At 17:11).
Como disse Martinho Lutero: "A Bíblia é a manjedoura onde Cristo está deitado. Não a deixemos intacta, pois assim perderemos Cristo". Nossa fé deve estar fundamentada na Palavra e não em experiências passageiras ou tradições humanas.
Conclusão
A ignorância bíblica tem conduzido muitos cristãos ao erro, distanciando-os do Evangelho genuíno. Precisamos rejeitar a mentalidade anti-intelectual que despreza o estudo teológico e abraçar a verdade revelada nas Escrituras. "Santifica-os na verdade; a tua palavra é a verdade" (Jo 17:17). Que possamos, como igreja, voltar ao fundamento sólido da Palavra de Deus e viver de acordo com ela.
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